terça-feira, 19 de maio de 2009

"Treinar pra quê?"

Gostaria muito de poder concordar quando as pessoas falam que “jornalista sabe de tudo”. É bem verdade que dá vontade de soltar uma boa gargalhada quando ouço uma “afirmação” tão sem fundamento quanto esta, geralmente, dita por pessoas comuns, que não são da área. Digo ‘comuns’, com um prazer quase mórbido de ser pejorativa, mas não contra os outros, contra nós, jornalistas. Isso porque a maioria, no auge da arrogância e soberba, se envergonha de dizer um simples “não sei”. Na verdade podemos saber até um pouco sobre tudo, mas como todo ser humano cometemos erros sim, estes com uma freqüência que beira o surreal (muitas das vezes). Sem falar que a confusão, tanto mental quanto casuística, é parte integrante (infelizmente) da nossa rotina.

Neste final de semana, ouvi uma colega da pós-graduação dizer que a faculdade nos ensina a escrever e não sobre o que escrever. Na verdade ela criticou o sistema de ensino utlizado nas faculdades de comunicação social, que geralmente não colocam nos programas disciplinares uma base teórica de peso. Na rua (traduzindo: reportagem), aprendemos que a experiência faz certa diferença, mas ela não se aplica tanto à carreira acadêmica, mesmo que o jornalista a veja somente como uma segunda opção de trabalho para um mercado mais do que inflado. Com exceção de faculdades como aquela da Gávea (para não citar nomes), cujo conteúdo programático permite o acesso a grandes pensadores e discussões a respeito de textos como o “Panoptismo”, de Foucault, outras deixam a desejar nesse quesito. Tanto que alguns profissionais carentes de conhecimento, como eu, sentem certa dificuldade quando começam uma pós-graduação, seja ela lato ou strictu senso.

Todo esse “nariz de cera” (estou muito “jornalística” hoje, me perdoem) é somente para dizer que essa tal colega me incitou a seguir em frente com um projeto que tenho postergado há anos: minha tese de mestrado. Antes de começar a estudar bastante e, claro, terminar minha pós em Comunicação Empresarial, preciso criar um objeto, traçar a linha de pesquisa e ver em qual programa de uma determinada universidade ele se enquadra. Trabalhoso? Que nada... praticamente impossível! Isso claro, para o profissional que trabalha oito horas por dia, com direito a freelas para administrar e que ainda tenta manter uma vida social saudável, porque ninguém é de ferro.

Ignorando drasticamente as sugestões do livro “The Secret” (que eu li com afinco), quando paro para pensar no que vem por aí, em termos de estudos, imagino se o mestrado, além de trabalhoso, também não poderia ser considerado outro empecilho para os que como eu, desejam se sobressair ainda mais no mercado de trabalho. Para aqueles que não me conhecem e pensam que já estou tirando o corpo fora, antes mesmo de começar, fiquem sabendo que eu não sou de fugir de nada na minha vida. Somente digo isso porque lembro de colegas de profissão que viam o strictu senso como uma maneira de se projetarem ainda mais no mercado de trabalho e que hoje estão ocupando outras funções, menos especializadas, porque certos empregadores disseram não ter renda suficiente para valorizar um profissional com tamanha especialização.

Tal fato me faz lembrar daquela máxima que diz que o Brasil é o “País da Ignorância”. Realmente essa realidade desleal nos faz parar para pensar, sobretudo, na falta de incentivo dos Governos Municipal, Estadual e também Federal, que teimam em dizer que falta verba para a educação e para o respectivo profissional da área, mas que nada fazem para reverter esse quadro. Assim como nos faz lembrar da célebre frase daquele ex-craque de futebol, idolatrado por letrados e não letrados: “Treinar pra quê?”.

Sendo assim, se for preciso mesmo de uma desculpa para cursá-lo, digo que farei mestrado por pura satisfação pessoal. Pronto. Sem qualquer pretensão de aumento salarial. O que é uma grande mentira. Romântica que sou, ainda tenho esperanças de ter o reconhecimento profissional que busco (inclusive monetário), mesmo com o diploma do strictu senso nas mãos. Parafraseando a tal colega, a verdade é que não vejo a hora de me apaixonar por meu objeto de estudo e tão logo “engravidar do meu mestrado”.

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