terça-feira, 26 de maio de 2009

Relacionamento(s)...

Busca contínua, defesa, reservas, medo, intolerância... Por que estas são algumas das características que regem o início de um relacionamento, hoje em dia? O que complicou tudo o que, supostamente, deveria ser tão fácil e tão bem aproveitado pelas duas partes que estão começando a se envolver? Conquista, carinho, entrega, sinceridade, lealdade, entre outros conceitos tão fortes quanto, deveriam ser os mais empregados por casais pós-modernos. Mas, ao contrário disso, a maioria usa e abusa de avatares, para que o outro só enxergue aquilo que ele permita que veja, não se deixando levar por um sentimento que não deveria ser controlado, limitado ou tolhido.

É muito triste quando se analisa profundamente essa sociedade hipócrita e demagoga, na qual as pessoas esqueceram de respeitar as outras, onde é preferível “ficar” sem compromisso, a mergulhar de cabeça e apostar num relacionamento que pode sim dar certo. O problema, acordado por muitos, está na bagagem que cada um leva, inconsciente ou conscientemente, de uma relação para a outra seguinte. O que serviria para somar e nortear – já que com a vivência ponderamos melhor o que queremos e o que não toleramos mais como característica para aquela pessoa que desejamos ter como parceira –, traz consigo ainda traumas rançosos. Isso só contribui para um endurecimento do outro, o que vem a deixá-lo cada vez mais intolerante, adjetivo que permite com que seja construída uma barreira imaginária, que impede o envolvimento entre duas pessoas. Isso porque o receio de se magoar, tanto ou mais do que na última experiência, é muito maior que a vontade de seguir à diante, de conhecer um novo alguém.

Já falei sobre isso antes e ouso “gritar” dessa vez: sou romântica, me entrego sim e acredito nas pessoas. Prefiro cair de cabeça e me machucar a entrar num relacionamento cheia de reservas, estas que não acho nem um pouco justas para ambos. Sinto-me viva quando conheço alguém que de cara me faz rir de nervoso e sentir aquele cala frio na espinha. Há quem diga que me exponho demais, o que pode até ser verdade, mas uma relação a dois não é isso? Exposição total da alma e do corpo? Se não é hoje em dia, deveria continuar sendo. O problema é ainda maior quando pensamos fazer o que ordena essa teoria perfeita, mas um belo dia nos damos conta que possuímos também um avatar. Até eu, no auge do meu romantismo meio anos 60, descobri que cultivo um com afinco.

Aquela pessoa especial me fez enxergar isso nesse final de semana. Percebi que o medo de uma possível reprovação por parte do outro, devido à minha personalidade antagônica (tão mal compreendida por mim) somada a alguns defeitinhos, que de “inhos” não tem nada, me fizeram criar uma máscara inconsciente. Essa mesma, tão criticada por mim. É duro pensar estar entregue e totalmente exposta e de repente perceber que não só se esconde, mas que também se tolhe ao se mostrar para o outro. Reservas e mais reservas. As inconscientes são tão traiçoeiras quanto as intencionais. Confesso que nesse final de semana, além de me encarar do avesso, também tive a oportunidade de conhecer e (me perdoem!) analisar outros casais.

Um deles pra lá de destrutivo e o outro desleal. Tal percepção me fez parar pra pensar no por quê disso tudo. A conclusão pode ser avaliada a partir das características descritas no início deste texto reflexivo: busca contínua, defesa, reservas, medo e intolerância. As pessoas se preocupam demais em não estarem sós, se contentando com pouco, quando deveriam exigir o “tudo”. Muitas das vezes tem a ver com imaturidade ou com uma auto-estima praticamente nula, o que faz com que seja projetado no outro a razão de sua felicidade. É certo de que ainda pode vir à tona aquele velho pensamento infanto-juvenil conhecido e evocado por alguns pessimistas: “nunca encontrarei outra pessoa”. Insistência não deve ser confundida, em nenhum momento, com tolerância, uma das características que considero essencial a um relacionamento.

Faz-se válido tentar, desde que seu bem-estar não esteja em jeopardy. Acredito que haja um meio termo entre a reserva/ defesa e a exposição total/ entrega, só assim, quem sabe, alguns poderiam deixar o “deveria” de lado para se concentrar no que realmente importa: o que está por vir, o futuro e, principalmente, se permitir a retomar a fé no outro. Daqui pra frente, pretendo praticar a confiança em mim mesma, assim como oferecer uma oportunidade para que o outro me veja inteira, única, sem meu avatar e ainda sem qualquer resquício de defesa, reservas, medo ou intolerância, para que minha busca contínua algum dia possa se encerrar num encontro honesto e perene.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um conto (quem nunca foi ghost writer?)

Sempre fui uma criança muito moleca, o que já naquela época era incomum por se tratar de uma menina. Na década de 50, todas eram comportadas, brincavam com bonecas de pano e com seus jogos de chá, estes muitas das vezes rebuscados, imitando as peças originais de porcelana encontradas nas mesas de café ou chá de nossas mães e avós. Mas eu não era assim. Ao contrário de todas, gostava de andar com os meninos e não via a hora de chegar da escola para jogar bola. Futebol, jogo de botão e amarelinha eram as minhas brincadeiras preferidas, para o desespero da minha família, super tradicionalista.
Lembro-me de que certa vez, já no final da década de 50, fiquei extremamente ansiosa para ir numa festa realizada pelos colegas do trabalho de uma amiga de nossa família. Estava próximo ao Natal e esta seria como se fosse um evento de confraternização, no qual essa tal amiga chamou a mim e a minha mãe para acompanhá-la. “Leve a menina, ela vai gostar. Vai estar cheio de meninos para ela brincar”, disse olhando seco pra gente. Diferentemente da minha mãe, que não reagiu à alfinetada à contra-gosto, eu adorei saber que além das meninas metidas e de fita de cetim no cabelo eu iria ter com quem brincar efetivamente.
Ainda bastante tímida, sem tirar os olhos do chão e com a mão grudada na saia da minha mãe, entrei no grande salão do Palácio das Laranjeiras, na época em que o Rio de Janeiro era a capital do Brasil. Tudo estava bem decorado e a mesa principal destoava pela fartura. Enquanto centenas de garçons atravessavam o salão levando delícias, as senhoras da alta classe carioca se sentavam à mesa com suas respectivas famílias. De pernas bem cruzadas e com a postura ereta, colocavam o guardanapo sobre o colo e mastigavam com delicadeza um pedaço de uma nobre carne vermelha, isso para que tão logo pudessem destilar seu veneno falando de outras tão mal vestidas quanto si próprias.
Quando o relógio anunciava apenas uma hora de festa, eu, ainda muito tímida sentada numa mesa ao lado da minha mãe, fui chamada pela cerimonialista a me juntar às outras crianças numa fila imensa. Não entendi nada a princípio, mas quando a tal moça disse que íamos receber um presente de Natal fui correndo para guardar o meu lugar. No início da fila, formada por uma gurizada de idades variadas, estava um homem alto, magro, com um rosto bem comprido, que sorriu para mim e me deu um presente envolto com uma linda fita vermelha.
Para minha surpresa, ao abrir o embrulho percebi se tratar de uma boneca. Nem era tão feia, mas me senti desconcertada ao ter aquele objeto nas mãos, sem saber o que fazer com ele. O devaneio era tamanho que mal notei quando alguém tocou em meu ombro. Era um menino que, sem perceber, me “salvara” de um constrangimento ainda maior, já que eu não sabia sequer brincar com aquele troço. Com uma bola de futebol em riste me chamou para jogar com os outros. Imediatamente, soltei a tal boneca, sem perceber que lá ia ela caindo ao chão, onde, acredito, permaneceu até sempre.
Anos mais tarde, sentada na sala ao lado da minha mãe e do meu noivo, via estupefata pela televisão o nascimento daquela que seria a capital do País, Brasília. Nunca pensei que um dia poderia ver a construção de uma cidade, ainda mais de uma capital federal, então não me contive e comecei a elogiar seu grande fundador, Juscelino Kubitschek. Foi quando minha mãe, se gabando para o meu noivo, lembrou da tal festa de Natal, em Laranjeiras, na qual fomos convidadas. “Lá minha filha recebeu das mãos do próprio JK uma linda boneca, que ela guarda com muito carinho até hoje”.
Enquanto meu noivo se enchia de orgulho e minha mãe cantava vitória por ter conquistado seu objetivo, fiquei em silêncio. Na verdade, porque não sabia ao certo se havia ficado mais chocada com a mentira proferida por minha querida mãe ou com o fato de que, na época, não tinha a menor noção de quem era aquele homem alto, magro, que sorriu para mim. O mesmo sorriso, mais envelhecido é claro, que via através da televisão, a medida em que falava sobre Brasília.

terça-feira, 19 de maio de 2009

"Treinar pra quê?"

Gostaria muito de poder concordar quando as pessoas falam que “jornalista sabe de tudo”. É bem verdade que dá vontade de soltar uma boa gargalhada quando ouço uma “afirmação” tão sem fundamento quanto esta, geralmente, dita por pessoas comuns, que não são da área. Digo ‘comuns’, com um prazer quase mórbido de ser pejorativa, mas não contra os outros, contra nós, jornalistas. Isso porque a maioria, no auge da arrogância e soberba, se envergonha de dizer um simples “não sei”. Na verdade podemos saber até um pouco sobre tudo, mas como todo ser humano cometemos erros sim, estes com uma freqüência que beira o surreal (muitas das vezes). Sem falar que a confusão, tanto mental quanto casuística, é parte integrante (infelizmente) da nossa rotina.

Neste final de semana, ouvi uma colega da pós-graduação dizer que a faculdade nos ensina a escrever e não sobre o que escrever. Na verdade ela criticou o sistema de ensino utlizado nas faculdades de comunicação social, que geralmente não colocam nos programas disciplinares uma base teórica de peso. Na rua (traduzindo: reportagem), aprendemos que a experiência faz certa diferença, mas ela não se aplica tanto à carreira acadêmica, mesmo que o jornalista a veja somente como uma segunda opção de trabalho para um mercado mais do que inflado. Com exceção de faculdades como aquela da Gávea (para não citar nomes), cujo conteúdo programático permite o acesso a grandes pensadores e discussões a respeito de textos como o “Panoptismo”, de Foucault, outras deixam a desejar nesse quesito. Tanto que alguns profissionais carentes de conhecimento, como eu, sentem certa dificuldade quando começam uma pós-graduação, seja ela lato ou strictu senso.

Todo esse “nariz de cera” (estou muito “jornalística” hoje, me perdoem) é somente para dizer que essa tal colega me incitou a seguir em frente com um projeto que tenho postergado há anos: minha tese de mestrado. Antes de começar a estudar bastante e, claro, terminar minha pós em Comunicação Empresarial, preciso criar um objeto, traçar a linha de pesquisa e ver em qual programa de uma determinada universidade ele se enquadra. Trabalhoso? Que nada... praticamente impossível! Isso claro, para o profissional que trabalha oito horas por dia, com direito a freelas para administrar e que ainda tenta manter uma vida social saudável, porque ninguém é de ferro.

Ignorando drasticamente as sugestões do livro “The Secret” (que eu li com afinco), quando paro para pensar no que vem por aí, em termos de estudos, imagino se o mestrado, além de trabalhoso, também não poderia ser considerado outro empecilho para os que como eu, desejam se sobressair ainda mais no mercado de trabalho. Para aqueles que não me conhecem e pensam que já estou tirando o corpo fora, antes mesmo de começar, fiquem sabendo que eu não sou de fugir de nada na minha vida. Somente digo isso porque lembro de colegas de profissão que viam o strictu senso como uma maneira de se projetarem ainda mais no mercado de trabalho e que hoje estão ocupando outras funções, menos especializadas, porque certos empregadores disseram não ter renda suficiente para valorizar um profissional com tamanha especialização.

Tal fato me faz lembrar daquela máxima que diz que o Brasil é o “País da Ignorância”. Realmente essa realidade desleal nos faz parar para pensar, sobretudo, na falta de incentivo dos Governos Municipal, Estadual e também Federal, que teimam em dizer que falta verba para a educação e para o respectivo profissional da área, mas que nada fazem para reverter esse quadro. Assim como nos faz lembrar da célebre frase daquele ex-craque de futebol, idolatrado por letrados e não letrados: “Treinar pra quê?”.

Sendo assim, se for preciso mesmo de uma desculpa para cursá-lo, digo que farei mestrado por pura satisfação pessoal. Pronto. Sem qualquer pretensão de aumento salarial. O que é uma grande mentira. Romântica que sou, ainda tenho esperanças de ter o reconhecimento profissional que busco (inclusive monetário), mesmo com o diploma do strictu senso nas mãos. Parafraseando a tal colega, a verdade é que não vejo a hora de me apaixonar por meu objeto de estudo e tão logo “engravidar do meu mestrado”.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma romântica inveterada

Por definição, inveja significa “ato de querer aquilo que os outros tem”. É... odeio admitir, mas hoje senti uma pitadinha desse sentimento terrível ao ouvir de uma colega como foi seu final de semana (não que o meu tenha sido ruim, foi ótimo em todos os sentidos). Ela compartilhou comigo que seu atual namorado, um dos últimos românticos do mundo, a surpreendeu com pétalas de rosa sobre a cama num dia e no outro com um buquê gigantesco, trazendo um cartão de tirar o fôlego. Sem falar nas mensagens de texto que recebe todos os dias, nas quais ele tenta mensurar o que está sentindo por ela. Fiquei muito feliz pela minha amiga, que não conseguiu (acho que nem queria) disfarçar seu semblante nitidamente apaixonado. Há de convir que hoje em dia é difícil encontrar um homem que trate a mulher como deve ser, que abra a porta do carro, que ande de mãos dadas, que seja carinhoso e que mantenha entre ambos um respeito incondicional.

Enquanto ela suspirava, lembrei da primeira vez que assumi esse meu lado romântico, atualmente, um pouco camuflado. Eu devia ter uns 13 anos de idade e, como de hábito, acordava cedo todos os dias para ir à escola. A cada manhã eu mantinha um ritual: mal o despertador tocava, eu pulava da cama e seguia para a janela do meu quarto (moro num apartamento) para respirar fundo aquele frescor que só uma manhã de outono consegue ter. Quando olhei para baixo estava escrito no asfalto, bem na direção do quarto da minha vizinha de porta: “Thaty, te amo! J.”. Era aniversário de namoro dos dois e ele havia passado a madrugada inteira infringindo a lei somente pra sua namorada acordar com aquelas palavras.

Mal sabe ele que assim que as li, abusada que sou, saí correndo para a casa dela, sem escovar os dentes, pentear os cabelos ou trocar de roupa. Fiz questão de observar a reação da Thaty quando mostrei o que seu namorado havia declarado para ela abertamente. Para quem quisesse ver. Ela ficou com os olhos cheios d’água e eu também. A partir daquele instante não pensava em outra coisa a não ser no dia em que eu me apaixonaria. Não via a hora de conhecer uma pessoa que seria capaz de passar a madrugada inteira agachado, desviando de carros e consertando os borrões deixados na tinta branca só para dizer um “eu te amo” diferente e surpreendente.

Minha colega de trabalho me lembrou do quanto sou romântica, por mais que eu negue isso para mim mesma. Não sei porque, acho que pelo fato de ter me decepcionado muitas vezes, quando perguntam digo que não sou, que sou uma mulher moderna (sou de fato!) que não liga para essas coisas. Na verdade, continuo sendo aquela menina de 13 anos que sonha em encontrar um cara que faça papel de bobo num ambiente lotado, mostrando que não sente vergonha por gostar de mim; que mande um buquê de flores para o meu trabalho num dia comum; que respeite meu jeito moleca de ser e meu temperamento às vezes um tanto difícil; e que não me coloque numa redoma de vidro, como outros já fizeram, com a placa indicativa “Somente para exposição, por favor, não toque”.

Já o meu lado adulto fala mais alto quando faço uma alusão entre o meu pensamento de adolescente, exposto anteriormente, e aqueles protagonistas imaculados das comédias românticas, gênero que eu não suporto por ser meloso demais (o paradoxo também faz parte da minha personalidade sim). Para ser honesta, eu gosto mesmo é do hibridismo existente quando se combina a personalidade do cara real com algumas características intrínsecas no meu conceito de homem ideal.

O resultado é um sujeito maravilhoso. Cheio de problemas reais, provenientes de sua rotina atribulada; um pouco estressado; que não tem receio de dizer que está confuso em relação à carreira; com direito a defeitos, cometer erros e exageros curiosos; e dotado de trejeitos interessantes. Ainda acredito que esse homem real também possa nos dar um botão de rosa quando menos esperamos, que possa nos apoiar e nos criticar pensando somente no nosso bem; nos alertar; proteger e ainda conversar durante horas sobre assuntos sérios ou nos fazendo rir até o estômago doer. Sem medo de soar infantil, ainda penso que um dia vou acordar, olhar pela janela e me surpreender com uma declaração de amor. Mas dessa vez endereçada a mim.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Na roda com os meninos

Um jornalista uma vez me disse que a pesquisa de campo é um dos bens mais preciosos do bom profissional. Como, na época, era uma foca (para os normais, a tradução: quer dizer estagiária na linguagem jornalística) não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso. Para mim, era ir para rua, apurar a matéria com os personagens já pré-determinados e voltar para a redação com o sentimento de dever cumprido. Alguns anos depois, principalmente fazendo parte da editoria de cultura quase que minha vida inteira como repórter, entendi perfeitamente o que disse o coleguinha. Na rua, vendo ou participando de determinadas situações, conseguia perceber o momento e criar sugestões de pauta, assim como compreender algumas nuances do comportamento humano e aprender com elas.

Digo isso, mais especificamente, porque tive a oportunidade de sentar à mesa com três homens inteligentes um dia desses. No começo, dois deles estavam cheios de dedos com a minha presença, porque eu representava ali “a mulher”. Vocês sabem... é aquela velha história: homens de família aprendem quando pequenos a não falar palavrão na frente das meninas, a se comportarem como verdadeiros gentlemans, etc, etc. Mas num súbito fervor de raiva, incitado por uma briga entre namorados, um deles soltou o verbo, para a minha surpresa. Eu adorei, porque ali me vi como um dos meninos. Aliás, adoro conversar quando eles conseguem se libertar das rédeas da sociedade ao ver uma mulher como um dos brothers, ou algo do tipo.

Dependendo dos homens, eles se tornam ainda mais interessantes, mostrando inteligência e uma criatividade ímpar, principalmente, quando o assunto é relacionamento. Voltando ao estopim que culminou numa noite engraçadíssima e elucidativa, esse amigo brigou com a namorada porque ela estava de TPM. Na verdade, ela brigou com ele, porque estava na TPM. Considerada por nós, mulheres que tem essa doença de fato, um dos maiores terrores das últimas centenas de anos, a Tensão Pré-menstrual nos trás, mensalmente, irritação, tristeza sem razão aparente, raiva, ódio iminente, um humor bipolar e uma tendência a sermos grossas e estúpidas com nossos namorados. Homens de plantão, saibam que não fazemos por mal. Simplesmente nos vem à cabeça uma insegurança monstra, que nos faz duvidar de tudo o que vocês dizem, que nos faz achar que vocês não ligam mais para nós e, como a intimidade permite o imensurável (de vez em quando!), descontamos nossas frustrações em vocês.

Certo? Claro que não é. Nossa insensibilidade momentânea faz com que não percebamos o quanto somos pentelhas, egocêntricas e maniqueístas nesta triste fase do mês. E esse amigo, naquela noite em específico, me fez perceber isso. Fiquei sentindo uma culpa enorme, porque sei o quanto somos cruéis de TPM. Segundo ele, sua namorada estava arrumando pretextos para brigar, fez cara emburrada na fila do cinema, não queria jantar conosco, sem falar que, com certeza, ficaria chateada se ele ficasse com a gente naquele restaurante. Fato este que se confirmou mais tarde, num outro dia.

Enquanto ele falava a respeito, pensava que quando nossos namorados estão com problemas (muito menos sazonais que a nossa TPM) e descontam na gente, falamos que são estúpidos e grosseiros e quando não satisfazem um desejo nosso, os chamamos de egoístas. Acho melhor pararmos para perceber quem magoa quem nessa história toda. Desde que começou a guerra dos sexos, reclamamos deles por não entenderem nosso comportamento durante a TPM e por não se comoverem com nossas crises existenciais ridículas e de validade com vencimento pré-estabelecido.

É bem verdade que nós somos o nosso próprio mal e o que os respectivos namorados querem é que sejamos as mesmas o mês inteiro. Eles desejam o que nós dissemos buscar sempre numa relação, isso claro, quando não estamos cegas pelos sintomas da TPM: um namoro linear, saudável. Só isso. Não enxergamos ou o permitimos, porque estamos ocupadas demais sofrendo por algo sem causa definida. Meninas, a TPM hoje tem cura, a culpa e o arrependimento ainda não.