segunda-feira, 4 de maio de 2009

Na roda com os meninos

Um jornalista uma vez me disse que a pesquisa de campo é um dos bens mais preciosos do bom profissional. Como, na época, era uma foca (para os normais, a tradução: quer dizer estagiária na linguagem jornalística) não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso. Para mim, era ir para rua, apurar a matéria com os personagens já pré-determinados e voltar para a redação com o sentimento de dever cumprido. Alguns anos depois, principalmente fazendo parte da editoria de cultura quase que minha vida inteira como repórter, entendi perfeitamente o que disse o coleguinha. Na rua, vendo ou participando de determinadas situações, conseguia perceber o momento e criar sugestões de pauta, assim como compreender algumas nuances do comportamento humano e aprender com elas.

Digo isso, mais especificamente, porque tive a oportunidade de sentar à mesa com três homens inteligentes um dia desses. No começo, dois deles estavam cheios de dedos com a minha presença, porque eu representava ali “a mulher”. Vocês sabem... é aquela velha história: homens de família aprendem quando pequenos a não falar palavrão na frente das meninas, a se comportarem como verdadeiros gentlemans, etc, etc. Mas num súbito fervor de raiva, incitado por uma briga entre namorados, um deles soltou o verbo, para a minha surpresa. Eu adorei, porque ali me vi como um dos meninos. Aliás, adoro conversar quando eles conseguem se libertar das rédeas da sociedade ao ver uma mulher como um dos brothers, ou algo do tipo.

Dependendo dos homens, eles se tornam ainda mais interessantes, mostrando inteligência e uma criatividade ímpar, principalmente, quando o assunto é relacionamento. Voltando ao estopim que culminou numa noite engraçadíssima e elucidativa, esse amigo brigou com a namorada porque ela estava de TPM. Na verdade, ela brigou com ele, porque estava na TPM. Considerada por nós, mulheres que tem essa doença de fato, um dos maiores terrores das últimas centenas de anos, a Tensão Pré-menstrual nos trás, mensalmente, irritação, tristeza sem razão aparente, raiva, ódio iminente, um humor bipolar e uma tendência a sermos grossas e estúpidas com nossos namorados. Homens de plantão, saibam que não fazemos por mal. Simplesmente nos vem à cabeça uma insegurança monstra, que nos faz duvidar de tudo o que vocês dizem, que nos faz achar que vocês não ligam mais para nós e, como a intimidade permite o imensurável (de vez em quando!), descontamos nossas frustrações em vocês.

Certo? Claro que não é. Nossa insensibilidade momentânea faz com que não percebamos o quanto somos pentelhas, egocêntricas e maniqueístas nesta triste fase do mês. E esse amigo, naquela noite em específico, me fez perceber isso. Fiquei sentindo uma culpa enorme, porque sei o quanto somos cruéis de TPM. Segundo ele, sua namorada estava arrumando pretextos para brigar, fez cara emburrada na fila do cinema, não queria jantar conosco, sem falar que, com certeza, ficaria chateada se ele ficasse com a gente naquele restaurante. Fato este que se confirmou mais tarde, num outro dia.

Enquanto ele falava a respeito, pensava que quando nossos namorados estão com problemas (muito menos sazonais que a nossa TPM) e descontam na gente, falamos que são estúpidos e grosseiros e quando não satisfazem um desejo nosso, os chamamos de egoístas. Acho melhor pararmos para perceber quem magoa quem nessa história toda. Desde que começou a guerra dos sexos, reclamamos deles por não entenderem nosso comportamento durante a TPM e por não se comoverem com nossas crises existenciais ridículas e de validade com vencimento pré-estabelecido.

É bem verdade que nós somos o nosso próprio mal e o que os respectivos namorados querem é que sejamos as mesmas o mês inteiro. Eles desejam o que nós dissemos buscar sempre numa relação, isso claro, quando não estamos cegas pelos sintomas da TPM: um namoro linear, saudável. Só isso. Não enxergamos ou o permitimos, porque estamos ocupadas demais sofrendo por algo sem causa definida. Meninas, a TPM hoje tem cura, a culpa e o arrependimento ainda não.

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