quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quando o corpo fala

Há mais de dois anos resolvi trocar as noitadas de segunda a segunda, um namorado sedentário e o meu doce cigarro para me tornar uma atleta. Nem sei como esse desejo começou. Pode ter vindo depois de uma ida à praia de Itacoatiara, em Niterói, onde a maioria dos frequentadores parece ter saído de uma fôrma perfeita, ou pelo fato de eu ter conhecido uma menina de 20 anos que aparentava 35. Bem da verdade que comecei a fazer atividade física devido à vaidade excessiva que tenho, um dos meus pecados capitais. Logo ia completar 30 anos e o corpo que eu via de biquíni não me agradava. Sempre fui exigente e estava me deixando de lado. Num segundo momento, fui atingida pelo cupido e, quando menos esperava, não conseguia mais viver sem aquilo.

Ainda mais depois que eu conheci um amigo, que me apresentou a escalada, ou alpinismo, como preferir. Quando eu senti meu corpo sendo elevado pelas minhas próprias mãos e pernas, em contato direto com a rocha (além da dor e ardência nas mãos e nas costas) senti uma intimidade que família ou homem nenhum tinha me passado. Estava apaixonada e disposta a viver para aquilo. De boêmia à atleta foi uma grande jornada e ainda é. Deixei o cigarro, que passou a me enjoar, passei a correr frequentemente, passei a sair somente aos sábados à noite (isso, claro, se não houver uma escalada marcada para domingo de manhã) e deixei de comer besteira, para seguir a risca o que me passa o nutricionista. Hoje em dia, não consigo viver sem minha rotina: acordo às 5h15, malho às 6h, vou trabalhar e, dependendo do dia da semana, treino, à noite, corrida ou escalada num muro (indoor).

Mas uma coisa que todo atleta deve ter em mente é que não se deve testar o limite do seu corpo, por mais que seja algo inconsciente ou inerente a qualquer vontade própria. Pensamos que somos deuses e que nossos corpos são de aço, como super-homens ou, no meu caso, mulheres-maravilha. Isso, claro, até acontecer a primeira lesão. Ela chega de surpresa, geralmente, quando se está no auge do treinamento e do condicionamento físico. Não existe coisa pior pro atleta do que ouvir a seguinte palavra de um médico: "Repouso". Quando ela vem acompanhada de "absoluto", chame um cardiologia porque é bem capaz que além da contratura muscular o atleta tenha um infarto.

Ficar sem fazer nada ou se sentir limitado ao fazer uma atividade física é um sofrimento sério para alguém que tem o esporte como um pilar em sua vida. É o meu caso. O esporte para mim é algo que levo muito a sério, a ponto de ignorar a dor aguda que tenho sentido no peitoral há semanas, com medo de ser algo mais grave do que uma contratura muscular. Nosso terror é o chamado estiramento, enfermidade que, definitivamente, não deve ser ignorada. Hoje, enquanto malhava senti meu peitoral explodir por dentro, fazendo com que saíssem dos meus olhos lágrimas involuntárias de uma dor que me fez parar de respirar por segundos. Dor que eu, infelizmente, não consegui desprezar.

Fui socorrida por amigos que me levaram a uma clínica. Resultado: estou com uma lesão no músculo peitoral maior, por conta disso estou tomando medicamentos indicados pelo ortopedista e ainda tenho que fazer exames na próxima semana para detectar, ao certo, qual o tipo de lesão. Mas segundo meu nutricionista, estou com princípio de overtrainning. Mantenho a todos informados quando descobrir exatamente o que é. Como todo atleta, apesar de ter ficado de cama hoje, amanhã vou acordar às 5h15, malhar às 6h e depois vou trabalhar. Fiquem calmos... amanhã é dia de posterior de coxa e vou ignorar dessa vez, não a dor, mas sim os exercícios para tríceps e peitoral... que fazem parte dessa série (que ironia!).

Agora a pouco, ao me permitir deixar a raiva e a revolta de lado, por ter sido tão cega comigo mesma, vejo que estou aprendendo que vale muito mais a pena ouvir quando seu corpo fala do que viver o resto da vida sem praticar as atividades que mais ama. A verdade é que vale muito mais a pena ficar uma semana parado do que cinquenta anos. Sinceramente, espero ter aprendido isso dessa vez e que num futuro longínquo eu me esforce a repousar quando for preciso, porque eu não consigo imaginar minha vida sem o esporte.



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