quarta-feira, 22 de abril de 2009

Confissões de uma mulher de 30

Durante uma conversa espontânea com uma pessoa muito especial, ontem – prefiro acreditar que essa espontaneidade nada tenha a ver com a garrafa de cabernet sauvignon que decorava nossa mesa (!) –, comecei a prestar atenção na música ambiente do restaurante, “personificada” nos clipes que passavam nas televisões de LCD do local. Ouvi de tudo: Corona com seu “This is the rhythm of the night”; Ace of Base interpretando a deliciosa “The Sign”; Culture Beat com “Mr. Vain”, entre outras pérolas. Percebi que esse repertório, totalmente insignificante para menores de 25 anos, refletia o set do DJ que tocava num aniversário realizado no primeiro andar.

Resolvi perguntar ao garçom quantos anos fazia o tal aniversariante e mesmo sob forte negativa da pessoa que estava a meu lado, acertei em cheio: 30 anos. Recentemente, percebi que tenho o “dom” de identificar uma determinada fase da vida a partir das canções e da moda que me marcaram naquela época. Sabia, exatamente, o que me lembrava essas músicas e qual o ano de cada uma delas, justamente por compartilhar com o aniversariante a mesma idade e, claro, a mesma época a qual me refiro.

Nesse restaurante vivi situações nostálgicas, engraçadas e de muita reflexão e sintonia com a pessoa que estava comigo, que vai “comemorar” seus 30 ainda este ano. Percebemos que estamos passando pela mesma fase, mas de maneiras diferentes. Ele, ao contrário de mim, está caminhando ainda pela estrada da negação. Eu, por outro lado, já me conformei. Confesso que estou até gostando de ser balzaquiana e me sinto exatamente como um dia bem descreveu o escritor: “a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser pudica e até embelezar-se com a desgraça”, além de se libertar de toda a culpa que um dia carregou. Hoje, como deduzi ontem, consigo dizer ‘não’; corro atrás de qualquer coisa quando quero; e consigo ignorar a opinião de alguns quando não gostam das minhas atitudes.

É engraçado (apesar da palavra “trágico” de ter me ocorrido agora) fazer 30 anos. Parece que estamos perdendo tempo o tempo todo e de vez em quando nos pegamos a analisar a vida e não paramos de nos questionar: “o que fizemos até agora? Nossa! Ainda moro com meus pais! Preciso ganhar dinheiro!”, etc. Pior é quando todas as suas amigas, da mesma faixa etária claro, já casaram ou estão grávidas.

Resultado: esse quadro pra lá de crítico faz com que todos da sua casa se voltem contra você, te obrigando a travar uma batalha sobre-humana consigo mesma e, claro, com a família inteira. Conceitos, critérios, medos e frustrações vem à tona, fazendo com que seu inconsciente se revolte e transmita a mensagem de que você é sim uma adolescente; que você quer sair com pessoas mais novas; aprender novas gírias; e ser suscetível aos modismos recentes. Além de voltar a fumar aquele “gudanzinho” na noitada, fazer aquela figuração na porta da boate mais frenética do momento e gastar rios de dinheiro com vodka e energético, isso porque um belo dia você descobriu que o Hi-Fi já saiu de moda (e da maioria dos cardápios) há mais de 15 anos.

De acordo com a psicologia isso se chama “Síndrome de Peter Pan”, nome dado ao estágio inconsciente no qual você se encontra presa, intensa e profundamente, na utópica Terra do Nunca, paraíso para aqueles que não querem crescer segundo o clássico imortalizado pela Disney. Essa mesma fase de resgate me aconteceu aos 24, quando estava prestes a me formar na faculdade, já tardiamente. Não queria ser profissional de jeito nenhum e o fato de assumir ainda mais responsabilidades na minha profissão me fazia pirar. Superei.

Na conversa de ontem percebi que eu tenho o poder de dar um “basta” em tudo que me incomoda. Foi assim com alguns relacionamentos passados, com o cigarro, com minha primeira crise de identidade e por que não o fazer de novo? Sei que isso está prestes a acontecer. Fato. A única coisa que eu não sei é se estou preparada para comprar agora uma passagem de volta da Terra do Nunca, Shangrilá, Pasárgada, que seja. Pode ser que sim... quem sabe em suaves prestações?

3 comentários:

  1. Você escreve fodasticamente bem. Profissão certa.
    Quanto as canções, é bem comum marcar. Ainda lembro da alguns nomes da nossa época, como Tracy Chapman, Jimmy Cliff, e infelizmente, New Kids...rs Quer saber? Acho que época igual não haverá mais. Você consegue imaginar uma "festa ploc" daqui a 20 anos com o que toca hoje em dia? Não acho mais nada de marcante, nem pra mim e nem pros meus filhos que não sei se um dia terei.

    Pergunta pessoal, posso? É Aquariana?

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  2. Muito obrigada, Felipe. Concordo com vc: não imagino uma "Festa Ploc" com psi, trance, e afins. Mas devo confessar que eu adorava New Kids on the Block. rs

    Não sou aquariana... sou capricorniana, com ascendente em áries.

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  3. Oi Mariana, sou sua colega na Pós... nossa, tô passada! rs Como me identifico com as suas palavras, do início ao fim!!! Que estilo bacana de escrever, o seu!!! Realmente, não é fácil tornar-se balzaquiana e ver que a vida nessa fase parece ser feita de anacronismos: queremos uma vida independente, mas não temos a solidez financeira para tanto; queremos mostrar o nosso potencial/talento profissional (construído à base de anos de estudo e dedicação), mas algumas pessoas ainda insistem em nos ver como "meninas"; queremos ser educadas e passamos por fofas ou idiotas; rs, por outro lado, se nos impomos, passamos por neuróticas, garotas alteradas- como diria a Maitena... rs enfim, é uma fase gostosa, mas também angustiante, complicada. E vc retratou isso mto bem... parabéns pelo blog e mto sucesso na realização dos seus projetos! Espero, que aos 40, possamos dar boas risadas de tudo isso... rs
    beijos,
    Luciana Aguiar.

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